quinta-feira, 21 de abril de 2011

Mudança


Andou pela sala de casa, pensando no dia de amanhã. Repensou em seus atos, maneiras de falar e até se vestir. Atitudes egocêntricas passadas despercebidas, prolongadas ao longo dos anos. Seria assim para sempre? Deveria sempre ser assim?
Eram quatro da manhã, e de repente se viu desesperada em saber sobre sua linha, que por ela mesma seria traçada. Livre de casamentos destruídos, romances mal acabados, amizades fictícias e orgulho interno, resolveu que a melhor maneira de resolver qualquer situação, seria entregando-lhe a vida a própria vida. Desconecta daquela que até então, se tornara uma realidade por todos concebida, decidiu mudar. Trocou de armário, de marido e amigos. Cortou o cabelo, se aventurou em casos com homens mais novos, e até o que chamou de "deslize momentâneo causado pelo álcool", com Helena, antiga amiga de faculdade. Prefiria não se rotular, e a nada permanecer como em estado de refúgio. Amava mais que a vida seus filhos, e por eles se dava ao luxo de tentar aproveitá-la, nem que fosse por sua primeira vez. Andou descalça, correu na rua de manhã, tomou chuva sem se preocupar, andou de bicicleta sem olhar para trás, fez amor sentindo amor. Caminhou pela praia sozinha, como se o mundo somente a ela pertencesse. Olhava para o horizonte em forma de agradecimento por algo. Algo mágico que tomara conta de seu corpo, sua pele, suas têmporas, do qual não pretendia abrir mão. Comeu o que tinha de comer, bebeu o que tinha de beber, amou quem tinha de amar.
Independente, segura, feminina, e humana acima de tudo, foi feliz.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Lixo Extraordinário


Um documentário incrível filmado ao longo dos anos 2007 e 2009, que acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Lá, ele fotografa um grupo de catadores de materiais recicláveis, com o objetivo inicial de retratá-los. No entanto, o trabalho com esses personagens revela a dignidade e o desespero que enfrentam quando sugeridos a reimaginar suas vidas fora daquele ambiente. A equipe tem acesso a todo o processo e, no final, revela o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano.
Indicado ao Oscar de melhor documentário em 2011, Lixo Extraordinário além de parecer apenas um retrato da vida dos catadores, se caracteriza por mostrar a arte e a dignidade da maneira mais tocante possível.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Temperamento impulsivo


“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.
Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
(Clarice Lispector)

domingo, 10 de abril de 2011

Arranca-me a Vida (Arráncame La Vida)


Filme ambientado entre as décadas de 1930 e 1940 no México, conta a história da jovem Catalina (Ana Claudia Talancón), encantada pelos mistérios até então não compreendidos do desejo adolescente, e descobertos a partir do momento que conhece o general mexicano Andrés Ascencio (Daniel Giménez Cacho), que a primeira vista conquista o coração da moça. Ainda menina, Catalina aceita se casar com Andrés, e apesar da riqueza de seu futuro esposo, é consequentemente obrigada a mudar de maneira drástica de menina ingênua sempre confortada pelo pai amoroso, para a mulher subjugada pelo machismo autoritário do marido.
Com os anos, o General vai conquistando cada vez mais seu espaço na política, ao mesmo tempo que Catalina engravida, e surgem novos filhos de casos passados de seu ,marido até então desconhecidos.
Após ser eleito Governador, Andrés decide ir em busca da presidência da República, porém fica sabendo que seu melhor amigo é eleito em seu lugar, o que acaba lhe provocando certa inveja.
Catalina infeliz com sua vida atarefada de compromissos sociais, desentendimentos na relação matrimônial, e decepcionada com a escolha feita ainda na juventude, decide se arriscar em uma proibida paixão com o diretor da orquestra da cidade, Carlos Vives (José María de Tavira), também amigo de Andrés.
O filme transita pelo cenário político mexicano dos anos 40, apesar de não se tratar de uma obra com tal engajamento.
Um adaptação do livro de Ángeles Mastretta, a produção foi recorde de bilheterias nos primeiros dias da estréia.
Arranca-me a vida é um filme delicado, fino na arte fotográfica, que acaba por mostrar o lado de uma mulher que por dentro, já mostrava a independência dos pensamentos femininos, até então inaceitáveis para o padrão de sua época.

sábado, 9 de abril de 2011

I have a dream



"É melhor tentar e falhar, que ocupar-se em ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que nada fazer.
Eu prefiro caminhar na chuva, a em dias tristes, me esconder em casa. Prefiro ser feliz, embora louco, a viver em conformidade. Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização. Mesmo se eu soubesse que amanhã o mundo se partiria em pedaços, eu ainda plantaria a minha macieira. O ódio paralisa a vida; o amor a desata. O ódio confunde a vida; o amor a harmoniza. O ódio escurece a vida; o amor a ilumina. O amor é a unica força capaz de transformar um inimigo num amigo..."
(Martin Luther King Jr.)

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Poesia de Rumi



"Como pode uma parte da vida deixar a vida?
Como pode a umidade deixar a água?
...
O que te magoa, também te abençoa.
...
A escuridão é a vela que levas.
O que não encontrarás, é o que procuras.

Eu poderia explicar-te isso, mas não sem partir
a redoma de vidro do teu coração
para sempre.

Bastam-te estas palavras.
Ou devo explicar-te mais?"

(Rumi, Jalal al-Din, poeta do século XIII)

domingo, 3 de abril de 2011

Almoço em Família



É tão raro quando sentimos aquela sensação de dever cumprido, com relação a nossa família. É claro, sabemos que estão ali, e é evidente que os amamos. Mas são nas pequenas e nas maiores ações, que conseguimos enxergar seu verdadeiro valor. Como foi dito no post anterior, perdi meu pai, e como consequência imediata, me fez valorizar ao extremo cada minuto passado com minha mãe durante esses quatro anos. Essa se encaixaria na maior, porém trágica situação vivida, ao longo dessa minha extensa jornada de dezesseis anos. As pequenas ações, penso que podem ser vividas a cada dia, em forma de abraço apertado, uma brincadeira carinhosa, uma comédia romântica assistida no sofá, e principalmente os almoços de domingo. Podemos ter todos os defeitos do mundo, e só Deus sabe como temos! Mas são almoços como o de hoje, que nos fazem perceber o quanto são importantes pra nós. em uma semana normal, é cada um no seu canto. Ele com seu prato de comida na sala, ela no quarto, e eu solitária na cozinha, esperando como em um último sinal de solidariedade, que os egoístas que dizem que estou sempre errada, se sentem a mesa como pessoas normais, e esqueçam a novela ou o futebol por pelo menos um instante. Egoístas, por não dividirem as conversas que tiveram no trabalho, as descobertas de si mesmos que executaram ao longo da semana. Aquilo que nunca disseram, mas que talvez naquele momento, teriam a chance de dizer. Egoístas por quase nunca compartilharem o que devia ser compartilhado. Disse a ela uma vez, que preferia ir na casa de uma amiga, ao ficar em casa. Fui desnecessariamente chamada de ingrata, que valorizo mais amizades do que deveria. Mas e você? Não valoriza mais a tv do que a mim? Ficou engasgado, mas se dissesse isso, seria um mês sem computador.
Sei que hoje, finalmente conseguimos ter o que há tanto tempo, não conseguíamos. Um verdadeiro almoço em família. Fiquei mais feliz do que se tivesse ganhado o celular que tanto quero, e pelo menos pra mim isso prova que os amo, mais que tudo.


Por: Luani Mendes

sábado, 2 de abril de 2011

Querido Pimp



Meu cúmplice maior, meu amigo e meu confidente,
Você já ouviu tanta coisa. Tanta besteira mal falada, tanto carinho motivado por minhas palavras. Já presenciou inúmeras danças, conversas comigo mesma, falsas entrevistas ao programa do Jô, falsos filmes por mim protagonizados, inúmeros prêmios ganhados pelos meus talentos, momentos de raiva, e momentos de alegria talvez incompreendidos por outros, mas nunca por você. Meu querido Pimp.
Talvez muitas te queiram, ou talvez muitas até tenham algum, que lhe seja parecido. Mas nunca você, nunca. Você está comigo em todos os momentos, isolado em um mundo no qual costumo chamar de tridimensional. Você faz parte do meu mundo. O mundo dos jovens incompreendidos. Daqueles que aparentemente estão sempre errados, e fazem disso o pior pesadelo da vida humana. Você, meu querido Pimp, mora no meu pequeno refúgio dos desolados, minha caverna onde exponho todas as minhas certezas, minha bolha paralela ao adequado, que mais ninguém teria o privilégio de chegar tão perto quanto você. Fazes parte de um longo e gostoso período da minha vida, que chamam de adolescência. Dorme comigo, as vezes sem querer por mim é chutado, já se encontra danificado pelo tempo, e um pouco desgastado. Mas por incrível que pareça, é um dos personagens mais importantes nesse meu processo de descobrimento mútuo da vida.
Meu querido amigo, meu querido ursinho.

Se eu fosse jovem como nos sonhos




Eu, como mais uma em um perplexo oceano de ilusões, me chamo K. Sinto que não posso mais sentir. Sinto que não consigo enxergar. Sinto, que por tantas vezes me perdi, e na perda inconsciente, me achei no profundo e gratificante entendimento do real. Perdi meu pai, e agora? Me vi mais perdida do que se possa imaginar. Não tem como imaginar. É como perder um braço, que te auxilia nas suas ações e te ajuda a realizá-las da maneira correta, mesmo que seja o esquerdo. O braço é mais no sentido figurativo. Queria eu ter perdido um braço. É estranho, duro, impiedoso e inconsequente, mas tudo na vida tem um propósito, disse minha mãe. Mas que propósito é esse? Merda, ele não tá mais aqui!
Se eu fosse jovem como nos sonhos, e intensa como gostaria, a vida seria mais simples. Se tudo que sempre quis, se transformasse em pó, e descobrisse que nada daquela ideologia era real? Será que aguentaria?
Me sinto sozinha, nesse exato momento. Me senti sozinha, naquele exato momento. Lembro que conseguia rir, desenhar na aula de artes, e fingir que nada estava pra acontecer. Mas por dentro, só Deus sabe o por dentro. Disso tudo, tirei que a vida nada mais é do que uma grande escola. Não pra te ensinar, mas pra te fazer passar pelas piores e melhores escolhas que já tenha feito. Afinal, eu nunca aprendo quando leio o livro de artes. Aprendo tentando fazê-la.

Por: Luani Mendes

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O tal do querer




Nina: Amo-te sem lhe ter. Penso sem lhe querer. Complicado, ou não, acaba por ser um sentimento ingrato, bruto como uma rocha, necessitado da esperança e do valor significativo de suas palavras. Se digo que te amo, olhas para frente, e não mais se lembra que existi. Por que tem de ser tão difícil? Por que não vê que sou tua, fui tua, e sempre serei tua? Amar, na pior das hipóteses se torna devastador.

Deco: Você é minha, por dentro. Não te olho nos olhos, pela simples sensação de nostalgia que tenho, quando te encontro. Só queria tê-la em meus braços, amparar teu choro e deleitar-me sobre tua pele macia, como uma criança a espera de um doce. Não te digo, pois sou covarde, e teimo em reprimir essa dor provocada pela imaturidade de minhas ações. Você é minha amiga, ora, por que me olharia de tal forma?
Sim, te quero mais que a mim.

Nina e Deco: Mas isso, nunca te direi.

Por: Luani Mendes

A Enseada




Um documentário extremamente impactante, dirigido por Louie Psihoyos e com participação principal de O’Barry Richard, o doc. aborda o massacre praticado por pescadores de golfinhos, na cidade de Taiji, Japão. Os pescadores alegam que a prática vem da tradição de seu povo, mas a pergunta levantada é:"Se é tradição, como a população não é ciente do que acontece?".
Utilizando equipamentos escondidos para investigar o que se passa na ilha, a equipe de jornalistas e ativistas descobre o aterrorizante crime contra os golfinhos, que acontece todo ano, no mês de Setembro.
"The cove" é vencedor do oscar de melhor documentário de 2009, e caracteriza-se como uma amostra muito bem elaborada de um dos maiores massacres cometidos a natureza marinha. Eu recomendo.