quinta-feira, 21 de julho de 2011

O banheiro da mente

Se trancar no banheiro e cogitar a hipótese da veemência dos fatos.
Se trancar no banheiro olhando para o vazio perdido no espaço temporal.
Se trancar na mente de seu banheiro seria olhar para as amarguras fecais da sua própria imoralidade, transformada na hipocrisia de uma pessoa correta.
Tranquei-me.
As vezes me tranco lá, só pra saber qual o gostinho da sabedoria divina. Sim, porque quando me tranco, seja no banheiro ou não, costumo olhar para o "eu flutuante" como se o estivesse controlando de uma superioridade indefinida. Estou lá em cima e me vejo cometendo as maiores burradas de minha vida.
Se trancar para mim pode se transformar no mais intenso ato de liberdade mental.
Este sou eu, caminhando por um lugar indefinido, mórbido, cansativo desesperadamente á procura de um sentido paras as coisas. Tentando aproveitar cada milésimo de segundo dessa bolha chamada vida das formas mais improváveis e idiotas que um jovem adulto poderia questionar.
Meus pensamentos deliquêntes fazem de mim uma marionete desse contexto aristocrático. O destino me leva daqui prali sem perguntar o que eu realmente quero. Eu? Eu queria chutar o balde, sair sem rumo pela floresta tortuosa do momento, andando sem sentido e buscando uma verdade.
Se eu continuar assim, como serei quando tiver quarenta e tantos?
A realidade é essa, querido. Te envolve pelo começo e termina te dando um soco no meio da cara.
Mas eu sou diferente, eu me desprendo dela.
Você também devia ser sabia? Faz bem de vez em quando... Lava a alma, satisfaz o ego.
Esse é um daqueles momentos reflectivos no qual o narrador se põe como o salvador da magnitude analógica dos conceitos ilegais a ele aderidos.
Me chamem de louco, equivocado ou idiota se preferirem, mas pensei em tudo isso enquanto me trancava as duas da manhã no banheiro.

domingo, 17 de julho de 2011

Aquele passageiro, sabe?



Tem horas que isso me parece tão estranho, sem sentido. Outro dia mesmo nos encontramos na praça central da cidade. Ele me olhou bem lá dentro dos olhos, de um jeito que faz as pernas quererem ceder e você tem que tomar o controle, sabe? Me levou ao centro do lugar que na noite fria de domingo já não havia tantas pessoas circulando, apenas jovens e não tão jovens bebendo e sorrindo regidos pelo som da música ao vivo de um artista de barzinho, tão romântico. Apenas eu e ele, encarando um ao outro. Chovia fraco mas não fizemos disso um empecilho para felicidade. Enquanto continuava a me encarar, fiz que olhava para o lado quando fui surpreendida por um beijo. Sincero, imaturo... Nos beijamos por um bom tempo e eu ouvia o cantor do barzinho ao lado tocando "Garotos". Ironia?
Andamos, conversamos sobre mil e uma coisas. Me contou sobre sua família, o amor pela irmã e o apreço pelos pais. Família conservadora, tradicional, sabe? Andamos mais um pouco até que pegou minha mão, meio sem jeito, carinhoso porém ainda mostrando para quem quisesse ver que aquela mão pertencia a ele, pelo menos naquele momento.
Sabe, sou bem jovem. Sou sim! Mas há muito não sentia aquilo na presença de um homem. Nunca colhi da reciprocidade afetiva masculina. Sempre espalhafatosa, sem medir as consequências. Também pudera! Para mim todos são defeituosos, insensíveis, imaturos, estúpidos, sensíveis em excesso, calados, feios, desarrumados, um sorriso torto, uma espinha aqui, outro defeito ali... Meu grande problema é pensar demais. O beijei e já nos imaginei com filhos em uma casa simpática isolada da cidade. Durante a semana o apresentei a meus pais. Recebi até anel de compromisso! Casamos sem que o noivo estivesse a par da situação.
Nunca comecei um relacionamento sem que em menos de duas semanas não achasse que a vítima seria um perfeito idiota.
Até agora não sei ao certo se o amei mas me doei naquela hora, minuto e segundo. Tive saudade quando não o vi durante a semana e já na seguinte não mais o quis como antes. Nos encontramos novamente e nada das faíscas do primeiro dia. Onde estava o ardor que havíamos depositado na caixinha de nossos corpos? Não me encarou como me encarara antes...
Estranho, sem sentido? Sim! A vida tem disso. Muita inocência atribuída a duas pessoas que mal sabem respirar, quem dirá amar.
Se foi amor? Acho que nunca vou saber. Mas pra mim a felicidade é isso, sabe? Um momento fugaz que pode fazer suas pernas quererem ceder e você precisa retomar o controle da vida.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Inquietude transformada no mais puro desejo da motivação hostil de meu corpo. Sinto que preciso fazer algo. Sinto que agora não sou o que poderia ser se meus gestos e ações correspondessem as lúdicas fantasias de criança. Tenho comigo um desejo ainda não definido de contemplar a vivacidade fugaz da juventude que os velhos nostáugicos não se cansam de chorar. Deleitam-se na efemeridade dos anos dourados. Advertem: “Viva o hoje, pois em meus tempos tudo era diferente.” Pobres esses, iludidos pela suposta sabedoria adquirida com esses tempos, quando tudo o que acontecia se constituía dos mesmos atos retóricos ao presente. Não se torture se não viveu o suficiente para a satisfação de seu ego, apenas tente não fazer da minha juventude uma prisão de regras, repetindo assim seu erro fatal dos tempos no qual tudo era diferente.
Pensei tudo isso, mas claro, não ousei proferir as palavras à minha mãe. Queria dizer-lhe aquilo tudo, pois parecia estar entalado por dentro, mas não o fiz. Na mesma hora o espírito de jovem audaciosa se esvaiu dentre as beiradas do meu medo. Medo gostoso, do tipo que no fundo se mostra como a necessidade de ser advertida. Eu devia ser advertida pela ousadia de expôr o que pensava, talvez. Devia, pois ao menos sabia o que queria. Queria ter a vontade para correr atrás da felicidade sem que para isso precisasse da tecnologia atarracada em meu cotidiano. Queria ter o dobro da fé que digo ter, ou apenas me desprender da preguiça mental e da fraqueza de minha carne. Mas não faço nada, não digo nada, não contesto nada, não sinto nada. Tenho medo, sabe? Medo de quando ando na rua e todos parecem se voltar para meus gestos. De quando erro, e penso que jamais acertarei de novo. Medo de não mais acordar, e o laranja dos fins de tarde forem tomados pela escuridão de meu inconsciente, já substituído por uma nova matéria. Para que então adiar aquilo que é possível que se faça agora?
Naquele dia resolvi sair em busca das respostas que nunca ninguém conseguira me explicar com tanta veemência. Apanhei minha bicicleta e pedalei... Pedalei até onde consegui chegar. No caminho pude observar o movimento dos carros imersos ao mundo caótico das angústias e devaneios eloquentes á qualquer pessoa que estivesse disposta a perceber. Homens e mulheres tomados pelas imposições de uma vida honesta, vida digna. Tão corretos em seus trabalhos, casas, instituições, e ao mesmo tempo tão esquecidos dos simples prazeres que a dignidade poderia oferecer-lhes. Mas se ao menos tivessem tempo...
Continuei pedalando sem olhar para trás, envolta pela magia da música em meus ouvidos mas nunca dispersa ao mundo a minha volta. Pude passar por moradores de rua esquecidos pela suposta loucura exposta sem o medo da imoralidade, indígenas artesãos jogados como lixo no canto do comércio local, vendedores ambulantes, prostitutas e criminosos trafegando pela mesma calçada na qual aqueles chamados homens e mulheres de vida digna passavam. Então eu lhe pergunto: “Qual é a sua diferença?” Olhados de cima se confundem com um formigueiro formado por insetos ávidos á uma recompensa conquistada pelo trabalho. Horas transcendo a raiva, outras machuco a quem me ama. Escondo preconceito, amo intensamente, acredito no que se desprende da certeza. Sou tudo isso e ainda tenho a capacidade de ignorar aquele que foi jogado na sarjeta?
Continuei pedalando e finalmente cheguei em meu destino. Deitei na grama esverdeada, relaxei minha cabeça contra o chão e olhando para o laranja do céu entrelaçado pelas nuvens de fim de tarde, só consegui pensar em mais uma coisa:“E quanto ao amor?” Uma súbita vontade de pegar a bicicleta e ir mais além, até chegar a porta da casa dele e declamar todo meu amor e paixão ao homem que por alguns minutos me fez sentir mais viva do que em todos os eternos dezesseis anos de minha existência, tomou todo meu corpo. Me transportei para o momento em que pensei que nunca estaria sozinha novamente, e que com ele passaria o resto de minha futuras experiências como observadora. Só ele me faltava para que tudo que busquei naquela tarde, se concretizasse em experiências bem sucedidas de uma jovem imatura. Apenas ele.
Quem nunca sentiu algo parecido não sabe o que é viver bem...

Chocolate Quente



Eram exatamente quatro e dez da manhã e me vi completamente desamparada. Senti frio, carência instantânea e a consequênte constatação de que estava sozinha e não tinha ninguém para recostar a cabeça e acariciar o peito enquanto tentava pegar no sono. Levantei da cama gelada, calcei as pantufas e fui direto para a cozinha. O que fazem as pessoas gordas em psicológico quando desamparadas, percebem que não há nada e ninguém para compartilhar toda a paixão retida em um dia duro de segunda-feira? Elas comem compulsivamente, e nada nem ninguém é capaz de impedi-las.
Fui direto ao armário e de repente encontrei um pacote de achocolatado no canto da prateleira, tão solitário quanto eu naquela noite impiedosa. Preparei meu chocolate quente, sublime, delicioso, me deixou em completo êxtase. Algo que há tempos não experimentava. Não o chocolate em si, mas o parar ás quatro da manhã para saborear o maravilhoso tempo comigo mesma. Escrevi textos, poesias, pensei sobre o real sentido da vida, sonhei ainda acordada, viajei pelo tempo tridimensional da noite independente. Imersa na cadeia da imaginação fantasiei mil de coisas, possíveis acontecimentos. Indecência ou imoralidade não são proibidas nos devaneios argumentativos de um jovem na criação de seu texto, em plena madrugada acompanhado de sua fiel caneca de chocolate. Sem medo de engordar, dos efeitos colaterais formados pelo açúcar, tomei um porre do chocolate quente. Corrompi as regras do sistema, deixando de dormir no suposto horário adequado para minha idade. Falei com Deus porque de todos, somente ele é capaz de me dar as respostas mais improváveis que as vezes eu preferia não ter entendido. Analisei o conjunto de erros que cometi no dia e disse para mim mesma que não os faria novamente. Tão tola, inocente... chorei com o som do violinista, meu peito encheu-se de gotas pingadas por um gigante sentimentalista. Me esqueci por completo da prova em que fui mal, do quarto bagunçado, do amor que ainda não vem. Lembrei de mim, e nada mais.
Acordei com uma ressaca de chocolate quente.