terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aquela Madrugada


Ninguém me deixa escrever, ninguém me deixa pensar. Ninguém me deixa.
No silêncio da madrugada, apenas nele encontro o melhor que a vida é capaz de produzir.
O silêncio dos inocentes, o silêncio da humanidade, a paz de espírito que cada um procura, a paz de espírito que eu sempre procurei. Achei. Acho que achei.
É estranho ser normal, diferente ser tão autêntico sem aquela preocupação de estar infringindo alguma lei imposta por alguém. Mas nela achei. Na doce madrugada, regada a lúdicas reflexões, poetas incompreendidos, a noite fria e o sono do mundo. Enquanto todos dormem, em seu maior estado de paz e descanso total a qualquer adversidade, eu encontro a afirmação que tanto procurava. Aquela que nunca achei. Aquela que ontém procurei. Aquela que agora confirmo sob o luar da noite. O sereno relaxante me fez sentir melhor. Lendo textos complexos e ao mesmo tempos tão claros de Clarice Lispector, descobri quem eu era. Foi na madrugada.
Trancada no quarto, o mundo tridimensional como custumo citar, de todos os adolescentes, pude perceber o valor das coisas. Eu, assim como ela, não me entendo. Entendo todos os valores éticos e sociais que existem, entendo questões econômicas que envolvem a capitalização das maiores potências do mundo, entendo a complexa política de países "problemáticos"... entendo tudo, menos a mim mesma. Mas concordo com Clarice. O não entender, desse modo é um dom. O bom é ser inteligente e não entender. Foi nessa madrugada, que hora me acalma e hora me dá medo. De dia ninguém me deixa escrever, de noite não consiguia entender. Se vivo na madrugada, é somente para a pura beleza das palavras, o doce conheçimento hostil que teima em não querer ser descoberto.
Não entendo nada disso, e acho que vou continuar sem entender. A conclusão dessa teoria foi que realmente descobri quem eu era. Uma pessoa imcompreendida por si mesma. entendeu?

sábado, 13 de novembro de 2010

Um dia no meio da guerra

"Fechei os meus olhos.
O dia já escureceu…a passagem de mais uma bomba deixou um rasto de pó cinzento…fez-me espirrar…fez-me berrar. Já sei que quando ela cair muita gente vai matar.
Não quero ter os olhos abertos, não quero ver quem amo desaparecer, não quero ver sangue a escorrer, não quero ver o meu povo a sofrer. 
Porque estou aqui metido? Não sei o que fazer, provavelmente não sei quantos mais minutos irei viver. 
Não sei o que é sorrir, correr no parque, ver o sol a nascer, nem tão pouco aprender a ler. Sou apenas um obstáculo a abater. 
Alguém que de forma inglória vai morrer. Porque não me deixam viver?

Só se ouvem disparos, a morte a sobrevoar disfarçada em pedaços de pólvora…em balas…
… Que um dia vão-me levar, que um dia vão calar-me, que um dia vão-me apagar os meus sonhos…a minha vida… 

Por isso…fechei os meus olhos… não quero ver a morte chegar…"

(João Filipe Ferreira)


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