quinta-feira, 25 de outubro de 2012

New York Subway Poetry Department

A gente se olha mas não se toca. Você encostado no canto do vagão, eu sentada no banco da frente, cabeça baixa lendo Kafka. Levanto os olhos de baixo para cima, você percebe minha tentativa de chamar atenção, se move desconsertado de um lado para o outro mas logo é detido pela multidão de homens e mulheres que nada mais são além de meros figurantes no nosso jogo de cena.

Continuo lendo, pensando que você poderia sentar ao meu lado e puxar conversa. Não, estragaria a situação. É tão bom te querer daqui dessas páginas amarelas, roteirizando o momento em que você finalmente me puxará desse metrô direto para um café em Paris. O que é Nova Iorque para quem pode ter o mundo? Me leva daqui, querido! Vamos correndo se preciso! E de Paris vamos para a Holanda, nos embriagar de todas as drogas do amor...

Então nosso metrô chega ao destino final, a última estação. Pela última vez, a gente se olha mas não se toca. Você vira com um sorriso audacioso, uma mistura de príncipe do baile com o gostoso do escritório, a barba por fazer, do jeito que eu gosto. A essa altura do campeonato, já me perdi completamente no jeito que você olha para o lado, sorri, e olha para mim. Enfim, você parte sem dizer quem é, e eu continuo a vagar por um mundo obsceno, do qual você não faz parte.
Me apaixonei pelo cara efêmero do metrô.

Capitalismo lixo lógico

É indubitável o fato de que a sociedade contemporânea sofre constantes transformações, seja em caráter ideológico, político ou econômico. Entretanto, um fenômeno do novo século é o tão conhecido mal mal do consumismo excessivo. Como solucionar o problema dos novos "workahollics"?

Disseminado pela eclosão de padrões consumistas e futilidades de uma mídia inquisidora, o ideal capitalista se revela como o mais forte poder do século XXI. A necessidade do desnecessário formula um paradoxo comum ao homem moderno, instigando não apenas a compra de bens materiais, mas a formulação de um pensamento incoerente com a nossa verdadeira função na engrenagem social.

Ainda jovens, somos moldados pelo senso comum impregnado nos olhos de quem se julga detentor da verdade. É comum nos depararmos com um aluno prestes a escolher sua profissão, optando por algo que lhe beneficie financeiramente, deixando de lado as escolhas próprias e gostos pessoais.

O consumo exacerbado serve para fomentar a constante busca pela felicidade paga, inexistente, ilusória. O escritor gaúcho Santiago Nazarian levantou em um de seus romances a seguinte questão: "Se a fome é o impulso da existência, o freio desta seria o medo ou a saciedade?" Medo no sentido da perda de valores éticos e morais, aplacado pelo volume de ambiguidades excêntricas propagadas por um padrão de consumo.

Por fim, entende-se como mal do consumo excessivo esse desencadeamento de atividades mecanizadas do homem; o lixo lógico de uma Revolução informacional. O fordismo humano tão executado pela nossa geração, o qual adora a produção em massa de estereótipos consumistas. É neste lixo lógico capitalista que vivemos, e se quisermos, podemos ser melhores de alguma forma.
Menos fome, menos medo, mais saciedade. Capitalismo lixo lógico.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Minha missão é civilizar!

Em meio a aula de história, resolvi perguntar para os amigos o que esperavam de suas vidas daqui a 30 anos. A maioria respondeu que pretende ter dinheiro, estar casado, com filhos e aquele papo mimimi. Aí o Lucas perguntou:

- E você, quer estar como daqui a 30 anos? 
- Sei lá, nunca dá pra saber, mas meu sonho é ser jornalista.
- Huuuuuuuum, vai apresentar o Jornal Nacional!! Uhul! 

Respirei fundo, afinal, é meu amigo.

- Não, não penso em Jornal Nacional. Mas será possível que vocês só conheçam o JN de jornal no nosso país? 
- Mas é o melhor, né... (Afirmação)
- Não, porra, não é o melhor não. 
- Ah, então você quer trabalhar aonde?
- Na globo news, ou num jornal impresso, não sei. O que pintar eu tô dentro (já sabendo da alta probabilidade de ficar desempregada.)
- Mas ninguém vai te ver.

VSF, FILHO DA P***! SAI DESSA VIDA DE VÍDEO SHOW!!!! - Pensei
(Meu sangue ferve quando alguém afirma algo que não tem o MENOR conhecimento, principalmente quando se fala no meu querido canal de notícias.)

- Pessoas inteligentes vão me ver. E que mania besta que vocês têm de achar que as pessoas escolhem o jornalismo para serem famosas. Nossa missão é civilizar! (Dei uma de Will McAvoy)
- Hãn?
- Isso mesmo. Levar informação, passar a verdade!

Nessa altura do campeonato, o Lucas já não entendia mais nada do que eu falava. Ficou todo sem graça, calou a boca e me deixou em paz. Voltou pro mundinho perfeito, onde vai ganhar dinheiro e morar na Zona Sul. Pobre Lucas... Contaminado pelo sistema. Mas eu não desisto, e como fiel seguidora dos mandamentos de Will McAvoy (The newsroom), continuarei em minha missão civilizadora, enfrentando e batendo de frente com o próximo idiota que disser uma merda descomunal como essa.

Desabafei, tava precisando.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Você é meu superego

Eu acho que estou apaixonada por você, só que toda vez que cogito algo parecido, caio na gargalhada de me imaginar amando alguém de verdade. Não nasci pra ser mulherzinha, sabe? Rolar de amores pela cama sozinha, confabulando sobre um romance que nunca vai acontecer. É engraçadinho te amar, porque ocupa a minha cabeça quando não há o que fazer, mas claro, você é meu e ainda não sabe.

Eu e você, que gracinha, que fofinho, que... SEM NOÇÃO! Mas você tem barba, é mais velho, tem bom emprego, boas ideias, bom papo, bom gosto musical, boas opiniões, bons argumentos, boas palavras, boas mulheres, bons amigos, boas saídas, boas cervejas, bons vinhos, boas cantadas, boas "trepadas", boas manhãs comprometidas, bons cafézinhos após o sexo, boas estratégias para se livrar da moça, bons olhares para mim, boas frases conquistadoras... Você é tão bom, meu querido! Por que você não olha pra mim? (ôÔ, me diz o que é que eu tenho de mal...)

Entretanto, não é bom em me querer do jeito que eu estou te querendo neste exato momento. Agora (00:30), você deve estar num barzinho qualquer, de uma cidade qualquer com uma mulher qualquer, dizendo qualquer coisa que pareceria linda saindo dos seus lindos lábios. Você vai beber até criar cenas inusitadas em sua cabeça, levará a sortuda para seu quarto de hotel, dirá que sua mulher não o ama e que a vida é um livro de capítulos intermináveis. SUA vida é um livro de capítulos intermináveis, querido. Então ela, acreditando em sua fiel mentira, deixará que desabotoe sua blusa, deitarão na cama e só Deus sabe o que virá depois. Pronto, perdi meu amor por mais uma noite.

Eu poderia ficar jururu por você me olhar como sua filha, todo preocupadinho e amigável. Poderia gostar de caras da minha idade, por exemplo, mas fui feita para quebrar a cara e escrever sobre isso depois. Se eu já fosse maior de idade, tomaria um porre DAQUELES, e beijaria o primeiro gatinho barbudo que me aparecesse na frente. O primeiro com a sua carinha observadora, sua roupa "Leio Dostoiévski", seus sapatos verde musgo e seus óculos de armação grande, alemã. Eu estarei trêbada, e vou agarrá-lo como se fosse o meu amorzinho, meu benzinho, meu moreno do cabelo enroladinho, meu você.

O que Freud diria desse nosso relacionamento imaginário? Esse monólogo romântico onde apenas eu te escrevo, te rasgo, te beijo...
Já ouviu falar no que Freud chamou de "superego"? Claro que já. É a teoria de que o ser humano é uma arena, sede de um conflito interno angustiante refletido em determinadas pulsões à moral, desejos opostos ao ideal social. O superego é a instância do que é proibido, relacionado à censura interior. Sigmund pode ter tido uma visão específica sobre nossos sentimentos ao criar essa teoria, porém, eu prefiro me basear nas minhas próprias conclusões. Você é meu superego, e meu corpo é a arena de batalha. Uau!

Deixa estar, querido. Espere até que eu faça dezoito anos, te mande um e-mail chamando para sair com o pessoal do seu trabalho, coloque a minha melhor roupa, meu melhor sapato, minha melhor disposição intelectual, e arrase com seu coração. E então você finalmente me olhará, me levará para seu quarto de hotel, desabotoará minha blusa e...
Não, isso nunca vai acontecer.






sexta-feira, 12 de outubro de 2012

"Não quero ser sonho!"

A visão da minha mãe, com relação a frase cuenquiana mais linda que poderia existir...

Eu deitada em minha cama, resolvi gritar para minha mãe que dobrava roupas no quarto ao lado:
- Mãe, nós somos os sonhos dos que agora dormem! Você gostaria de ser sonho?

Então ela gritou do outro lado, convicta de sua resposta: Eeeeeu não!
- Por que???? - Me assustei.
- Porque eu quero ser realidade. Os sonhos acabam muito rápido. - 
Então, sacando seu joguinho, resolvi surpreender:
- Ué, mas tudo que é bom dura pouco, não é mesmo?

Minha mãe ficou um pouco desconsertada, tentando encontrar argumentos nos tecidos que passava e guardava em seu armário, então continuou:

- Não acho não. Já falei que quero ser realidade.
- Mas por que, mãe? A realidade não é tão brutal, e verdadeira?
- Exatamente. Prefiro existir, porque a gente não pode fugir disso. É a NOSSA realidade.

Depois dessa, entendi que havia perdido mais uma batalha para minha sábia mamadí, e que opinião a gente não se discute. Mas eu sou bem diferente dela. Sou Poliana Moça, otimista e cheia de poesia pra botar pra fora, então vou continuar cantando versos do meu escritor carioca, acreditando que ainda "somos os sonhos dos que agora dormem."

(O escritor que falo é o queridíssimo João Paulo Cuenca, amor da minha estante)

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Medo

Você também sente que, em algum momento, escreveu alguma merda descomunal? Te acho genial pelo simples fato de dizer abertamente que escreve para si próprio. Essa linha de raciocínio trabalha como um escudo para agressões à nossa criatividade, como se dizendo isto, afirmasse que o leitor mais crítico e devastador fosse você mesmo. Acertei?

Há algum tempo venho escrevendo por aqui, e pouco me importo com a repercussão das minhas palavras. Já me importei no início, mas não agora. Quer dizer... Nem sempre é tão fácil quanto eu gostaria que fosse, porque a gente é burro, né? Aprendemos desde cedo um egoísmo mastigado por quem nos rodeava, que como consequência, acabou por se transformar nessa hipocrisia de que falo, onde nada importa, e tudo importa. Nós humanos tendemos a nos preocupar demais com a opinião dos outros, outros esses que nada fizeram para merecer tal posto ideológico. Fala sério, é só questão de "opiniães". 

Entretanto, eu me importo, exporto, imigro e emigro por espaços atemporais, da minha própria lógica inconsciente. Simplesmente, não sou dotada para me abster do mundo, e fluir livremente pelo fluxo de ideias e mais ideias que vão me surgindo, sabe? Eu, assim como muitos, ainda preciso de uma aprovação fatal desses "outros", ingratos e insatisfeitos. Busco forças do útero para agradar somente a mim, e às vezes até consigo exercitar esse egoísmo saudável e necessário da criatividade, só que quando o alerta do medo apita, não tem quem segure.

Seguindo a questão levantada por Santiago Nazarian em um dos incríveis parágrafos do livro "Mastigando Humanos", concluo que o freio da minha existência é o medo, e que sem ele, eu não estaria aqui. Pensamento paradoxal que define bem o que eu sou. Medo de escrever e não ser entendida; medo de errar e me perder nesse lapso momentâneo; medo de amar e ser amada; medo de falar e ser ouvida (principalmente quando o ouvinte é você); medo de você me achar estranha, brigar comigo ou nunca mais quiser autografar meu livro (por que eu tenho medo disso?);
 medo de atravessar a rua e morrer. E se morrer? 
E se morrer, morreu. Pelo menos vou ter escrito algo, para o meu próprio bem.

domingo, 7 de outubro de 2012

Independence feat. Freedom

Sensação de liberdade é quando você pode ir aonde quiser, fazer o que quiser, na hora em que quiser. Independência para mim, é quando minha mãe viaja e eu posso ser livre de todas as maneiras. Queimar o pano de prato ao tentar preparar o almoço e não levar uma bronca interminável pela falta de atenção ou estragar o arroz e perceber que a consequência do meu erro se voltará para mim mesma. Independência é perceber que seus erros serão seus erros, e de mais ninguém. Você é livre para errar, transar com quem quiser, quebrar a casa toda, roubar uma loja, fumar maconha, beber como se não houvesse amanhã. Claro, você é livre, meu amigo! (Não será mais depois de roubar uma loja, com certeza.)

Por outro lado, eu pelo menos não me sinto apta a quebrar com o ideal que esperam de mim. Não consigo errar de propósito, transar com quem eu quiser (com ninguém, na verdade), quebrar a casa toda, roubar uma loja, fumar maconha ou beber como se não houvesse amanhã, porque, na verdade, eu tenho medo. Do que? De engravidar. Só disso, porque o resto a gente se livra um dia.

O que eu quero dizer é que neste momento, sinto a liberdade empregnada na minha pele, e não tenho coragem de levantar a bunda do sofá e viver como uma fluorescent adolescent. Talvez, em um futuro próximo, eu tenha coragem pra existir além dessa esfera de pudores e regras que alguém introjetou na nossa cachola. Talvez eu queira nadar contra a maré, pode ser, mas quando isso acontecer, não serei mais eu. Serei o que esperam que eu seja.
Saca minha cabeça?

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Uma noite com meu escritor

Alguma hora da noite, Ipanema.
Antes de começar a escrever sobre este dia, confesso que pensei por algumas horas se realmente seria justo expor um dia que, para mim, foi tão especial. Passe uma boas horas na mesma mesa que o seu escritor predileto, e entenda o que eu digo.

Entrou discreto no restaurante em que estávamos, já puxando uma cadeira. Sentou a alguns centímetros de mim, o que não fez a menor diferença para a minha animação. Já o conhecia pessoalmente, já até ganhara ingressos - da forma mais desprogramada possível - de suas doces mãos para um café literário do qual participou na FLIP. Por muito tempo o li, tentei decifrá-lo e até o entendi (em breves capítulos), mas nunca, na história da humanidade, pensei que conversaríamos bêbados (ele de vinhos, eu de sono) em uma mesa de restaurante.

Para mim, ele não é um Drummond, um Rubem Braga ou um Veríssimo. É a compilação de cada um deles, com o senso crítico do Lima Barreto, filosofias freudianas e A CARA do Thom Yorke! Tem a malandragem boêmia de Fernando Sabino ao descrever em "O Encontro Marcado" o fundamental processo de transitoriedade entre infância e vida adulta, o qual todos já passamos, ou passaremos. Como Rubem Braga, destrincha o Rio de Janeiro num jogo de palavras envolvente, que faz qualquer um se apaixonar pela cidade suja. É linda sua literatura!

Quando boa parte dos amigos da mesa partiram, só sobraram eu, ele e mais três. É claro que eu era a figurante da cena, mas quem se importa? Agora ele estava do meu lado!
Num ímpeto de tentar mostrar meu amor pelo que escreve, falei:

- Por favor, diga que você escreve para mim.
Ele me olhou sem sorrindo, esperando que me explicasse. Então completei:

- Sim, você escreve para mim. Porque eu tenho CERTEZA que é para mim cada palavra que você publica. Sei que você já disse em uma entrevista que escreve para si próprio, mas você escreve para mim! -
Fitando meus olhos, super concentrado no que eu dizia, lançou a resposta mais profunda daquela noite:

- Isso é muito bonito! Quer dizer que somos um só,´pois o que escrevo para mim, te atinge diretamente. É muito bonito! -
Nem preciso dizer que infartei no mesmo momento.

Depois dessa, ouvi seus inúmeros conselhos sobre jornalismo, os quais me iludiam e desiludiam a cada frase.

- Luani, você tem que amar o jornalismo! Ame-o como um namorado, porque ele também vai lhe fazer sofrer. 

- Então seria meu namorado canalha?

- Exatamente! Mas se você realmente gosta, faça.

Enquanto pronunciava meu nome, me perdia mentalmente na série de perguntas que surgiam como gremlins em meu cérebro. "O que estou fazendo aqui? Só tenho dezessete anos!" "Por que ele presta atenção no que eu falo? Sou uma criança aos seus olhos." "Como vou voltar pra casa? Não tenho dinheiro pra táxi até a Ilha do Governador. AI MEU DEUS!!" "Não quero ir embora, ele nunca mais vai ser tão legal comigo como está sendo agora. Será?"
E após horas de muito papo sobre jorns, books, and everything, era hora de partir. Me despedi com um abraço carinhoso e um aperto nas duas mãos. Ele, todo humilde me disse:

- Querida, muito obrigado pelo seu carinho, e boa sorte nas escolhas!

Eu, perplexa em sua capacidade de ser gentil e inteligente ao mesmo tempo, me despedi dizendo:

- Obrigada você, por isso tudo! - (Imaginem meus olhos brilhando, minhas pernas tremendo e uma voz gritando em minha cabeça "VOCÊ ACABOU DE JANTAR COM O SEU ESCRITOR PREDILETO! MORRA!")

Fui embora, para o ponto de um ônibus que poderia nunca ter chegado, acreditando plenamente que, naquela noite fria de Ipanema, fomos sonhados por outros que dormiam. Que a nossa última noite jamais terminaria.