segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Você é meu superego

Eu acho que estou apaixonada por você, só que toda vez que cogito algo parecido, caio na gargalhada de me imaginar amando alguém de verdade. Não nasci pra ser mulherzinha, sabe? Rolar de amores pela cama sozinha, confabulando sobre um romance que nunca vai acontecer. É engraçadinho te amar, porque ocupa a minha cabeça quando não há o que fazer, mas claro, você é meu e ainda não sabe.

Eu e você, que gracinha, que fofinho, que... SEM NOÇÃO! Mas você tem barba, é mais velho, tem bom emprego, boas ideias, bom papo, bom gosto musical, boas opiniões, bons argumentos, boas palavras, boas mulheres, bons amigos, boas saídas, boas cervejas, bons vinhos, boas cantadas, boas "trepadas", boas manhãs comprometidas, bons cafézinhos após o sexo, boas estratégias para se livrar da moça, bons olhares para mim, boas frases conquistadoras... Você é tão bom, meu querido! Por que você não olha pra mim? (ôÔ, me diz o que é que eu tenho de mal...)

Entretanto, não é bom em me querer do jeito que eu estou te querendo neste exato momento. Agora (00:30), você deve estar num barzinho qualquer, de uma cidade qualquer com uma mulher qualquer, dizendo qualquer coisa que pareceria linda saindo dos seus lindos lábios. Você vai beber até criar cenas inusitadas em sua cabeça, levará a sortuda para seu quarto de hotel, dirá que sua mulher não o ama e que a vida é um livro de capítulos intermináveis. SUA vida é um livro de capítulos intermináveis, querido. Então ela, acreditando em sua fiel mentira, deixará que desabotoe sua blusa, deitarão na cama e só Deus sabe o que virá depois. Pronto, perdi meu amor por mais uma noite.

Eu poderia ficar jururu por você me olhar como sua filha, todo preocupadinho e amigável. Poderia gostar de caras da minha idade, por exemplo, mas fui feita para quebrar a cara e escrever sobre isso depois. Se eu já fosse maior de idade, tomaria um porre DAQUELES, e beijaria o primeiro gatinho barbudo que me aparecesse na frente. O primeiro com a sua carinha observadora, sua roupa "Leio Dostoiévski", seus sapatos verde musgo e seus óculos de armação grande, alemã. Eu estarei trêbada, e vou agarrá-lo como se fosse o meu amorzinho, meu benzinho, meu moreno do cabelo enroladinho, meu você.

O que Freud diria desse nosso relacionamento imaginário? Esse monólogo romântico onde apenas eu te escrevo, te rasgo, te beijo...
Já ouviu falar no que Freud chamou de "superego"? Claro que já. É a teoria de que o ser humano é uma arena, sede de um conflito interno angustiante refletido em determinadas pulsões à moral, desejos opostos ao ideal social. O superego é a instância do que é proibido, relacionado à censura interior. Sigmund pode ter tido uma visão específica sobre nossos sentimentos ao criar essa teoria, porém, eu prefiro me basear nas minhas próprias conclusões. Você é meu superego, e meu corpo é a arena de batalha. Uau!

Deixa estar, querido. Espere até que eu faça dezoito anos, te mande um e-mail chamando para sair com o pessoal do seu trabalho, coloque a minha melhor roupa, meu melhor sapato, minha melhor disposição intelectual, e arrase com seu coração. E então você finalmente me olhará, me levará para seu quarto de hotel, desabotoará minha blusa e...
Não, isso nunca vai acontecer.






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