quinta-feira, 25 de outubro de 2012

New York Subway Poetry Department

A gente se olha mas não se toca. Você encostado no canto do vagão, eu sentada no banco da frente, cabeça baixa lendo Kafka. Levanto os olhos de baixo para cima, você percebe minha tentativa de chamar atenção, se move desconsertado de um lado para o outro mas logo é detido pela multidão de homens e mulheres que nada mais são além de meros figurantes no nosso jogo de cena.

Continuo lendo, pensando que você poderia sentar ao meu lado e puxar conversa. Não, estragaria a situação. É tão bom te querer daqui dessas páginas amarelas, roteirizando o momento em que você finalmente me puxará desse metrô direto para um café em Paris. O que é Nova Iorque para quem pode ter o mundo? Me leva daqui, querido! Vamos correndo se preciso! E de Paris vamos para a Holanda, nos embriagar de todas as drogas do amor...

Então nosso metrô chega ao destino final, a última estação. Pela última vez, a gente se olha mas não se toca. Você vira com um sorriso audacioso, uma mistura de príncipe do baile com o gostoso do escritório, a barba por fazer, do jeito que eu gosto. A essa altura do campeonato, já me perdi completamente no jeito que você olha para o lado, sorri, e olha para mim. Enfim, você parte sem dizer quem é, e eu continuo a vagar por um mundo obsceno, do qual você não faz parte.
Me apaixonei pelo cara efêmero do metrô.

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