terça-feira, 22 de março de 2011

Destino repressor

Não aguento mais. Quero fugir, pra onde ninguém me encontre. Me esconder no buraco mais profundo da Terra. Sentada na cama, ouço o barulho das balas encontrando os carros, vidros e janelas. Pelo buraco feito na parede do meu quarto na semana passada, vejo com medo a fúria deplorável com que os homens vestidos de verde e turbante na cabeça pisam e chutam um homem que pelo infortúnio da vida, passara pela rua. Essa é a vida que tenho hoje. Não posso sair de casa, não posso ir para a escola, fui proibida de ir ao mercado, um dos únicos lugares que tinha prazer em ir quando mamãe me mandava. Se fechar bem os olhos, ainda consigo sentir o gosto doce da bala açucarada que Khuzaymah costumava me dar. Infelizmente não consigo me lembrar de um dia que tivesse respirado o ar puro de meu país, e tivesse dito: "Eu sou livre!",Tanto através da repressão vivida pelo lado de Gaddafi, tanto pelas tamanhas regras impostas por minha família. Tia Farihah nos contou que seu filho mais velho, Ghassan, levou um tiro enquanto protestava. A bala perfurou a perna, mas ele já está bem. Ghassan apoia o movimento Rebelde da Líbia, e constantemente era chamado para os conflitos. Já sua filha de 3 anos,Amal, não deu tanta sorte. Enquanto brincava com sua única boneca sem um dos braços, no pequeno cômodo que poderia se chamar de sala, três homens entraram na casa e atiraram em tudo que viram, incluindo a garota, que mal sabia o que estava acontecendo. Semanas depois, foi descoberto que os homens que invadiram a casa de tia Farihah eram das forças Aliadas a Gaddafi. Todos ainda estão chocados com o acontecido, mas nada se pode fazer com relação a tal atrocidade no momento. Eu queria que tudo isso parasse, que eu não tenha que me preocupar em ser morta enquanto ando na rua, e sim qual prova terei no dia seguinte. Queria que tempos de paz voltassem a reinar sobre nossa nação. Queria ser uma ocidental. Estudar fora, e não ter mais que usar burca. Papai diz que estou louca, que devo casar com quem ele escolher e viver para meu marido. Não quero isso, quero ser livre! Mas do que adianta se conseguirmos a liberdade de expressão nas ruas, quando dentro de nossas casas continuamos oprimidos pela tradição? Quero sair no mundo. Pelo menos lá, eles parecem estar melhores que aqui.

Ahlam Khan.

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