terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O caroço do angu

Então vamos lá. Eu e essa minha velha mania de achar que minha vida é uma arte, que alguma coisinha do meu dia seria um filme, um livro ou uma música, e que o narrador, inconsciente, sou eu. Tipo no "Paris Manhattan" com aquela voz em off do Woody Allen na parede do quarto da protagonista. No meu caso, durmo, acordo e faço graça com o Drummond da minha parede branca. Tá vendo como eu sou?

I guess what I'm trying to say (ru mine? arctic monkeys) é que no fundo, bem no fundo, devo fazer isso pra tentar fugir da minha vidinha banalzinha onde nada acontece quando tudo acontece. Como Amelie Poulain, também já me perguntei quantas pessoas estariam tendo um orgasmo neste exato momento, e morro de nervoso quando em um filme o motorista não olha para a estrada. Assim como a personagem do "Paris, Texas" (Wim Wenders), já entrei em intermináveis discussões e criei longos discursos com alguém que já tinha ido embora da minha vida há pelo menos uns três meses. O pior da catarse ser tão inexplicável é que, do mesmo jeitinho subjetivo que a cena aparece no filme, eu também conseguia ouvir a voz da pessoa me respondendo e até mesmo sentir o cheiro da criatura. E tenho absoluta certeza que se nos encontrássemos um dia, eu não conseguiria dizer nada daquilo que eu falei ao espelho. Paixão é foda...

Outro exemplo muito bom que eu tenho é meu caso com "Vicky Cristina Barcelona". Sim, podem comemorar, sou Cristina Futebol Clube quando o assunto é liberdade (principalmente se o caso fosse Penélope Cruz. Ai...). O fato é que sempre que me perguntam sobre sexualidade eu respondo com a mesma cara cínica de quem supostamente acabou de chegar de uma aventura sexual em Barcelona com um casal de artistas plásticos super conceituado e sensual: "pra quê rótulos? Acho que devemos viver de forma livre, sem pensar no que vier depois. A vida é tão bonita, as mulheres e os homens, para que definir as coisas? (suspiros)".

Vamos a mais um exemplo, desta vez, um tanto mais sério. Nunca sei em qual tipo de filme o meu dia vai se encaixar. Se em uma comédia tosca estilo "American Pie" (porque eu tenho 18 anos e convenhamos, é muito fácil acontecer.), se em um filme francês tipo "Azul é a cor mais quente" do qual ao invés de me apaixonar pela desconhecida menina de cabelo azul na rua eu me apaixono pela desconhecida menina de tatuagem no braço na Lapa, se em um preto e branco como Frances Ha do qual eu sou obrigada a me manter sozinha na cidade engolidora de sonhos que é esse Rio de Janeiro, ou em um desses Bad Ass do Bruce Willis. Porque no filme mesmo, o personagem nunca sabe no que tá se metendo, e nós que compramos a história só entendemos a mensagem pelo modo como nos é passado, pelo modo que o filme é dirigido, cortado, editado, fotografado ou pela trilha sonora. Quantas vezes já rimos de situações perturbadoras só porque a trilha era um instrumental meio Tom & Jerry, meio os 3 patetas? Tudo é questão de ponto de vista, assim como as nossas vidas.

Anyway, como diz uma amiga minha: "a tua vida é mais interessante do que um filme, porque você tá fazendo isso acontecer, e é real." Tá bom, Dands, prometo pra você que vou parar de me projetar num roteiro cinematográfico, até porque, com esse meu (des)talento o máximo que eu chegaria seria ao cineAngra (ó a maldade...). Parar de ver caroço no angu e viver do meu jeito. IT'S MY LIIIIIIFE, IT'S NOW OR NEVERRRR.... Ok, nada a ver. Mas será que se a gente simplesmente parar, a gente muda pra pior? Não teria que ser tipo com o álcool, que você vai parando aos poucos? Senão eu posso acabar igual a Amy Winehouse, né? E não queremos isso, né? Então eu vou parando aos pouquinhos. Um filme por vez, nessa bagunça de ser eu.

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