sexta-feira, 1 de julho de 2011

Chocolate Quente



Eram exatamente quatro e dez da manhã e me vi completamente desamparada. Senti frio, carência instantânea e a consequênte constatação de que estava sozinha e não tinha ninguém para recostar a cabeça e acariciar o peito enquanto tentava pegar no sono. Levantei da cama gelada, calcei as pantufas e fui direto para a cozinha. O que fazem as pessoas gordas em psicológico quando desamparadas, percebem que não há nada e ninguém para compartilhar toda a paixão retida em um dia duro de segunda-feira? Elas comem compulsivamente, e nada nem ninguém é capaz de impedi-las.
Fui direto ao armário e de repente encontrei um pacote de achocolatado no canto da prateleira, tão solitário quanto eu naquela noite impiedosa. Preparei meu chocolate quente, sublime, delicioso, me deixou em completo êxtase. Algo que há tempos não experimentava. Não o chocolate em si, mas o parar ás quatro da manhã para saborear o maravilhoso tempo comigo mesma. Escrevi textos, poesias, pensei sobre o real sentido da vida, sonhei ainda acordada, viajei pelo tempo tridimensional da noite independente. Imersa na cadeia da imaginação fantasiei mil de coisas, possíveis acontecimentos. Indecência ou imoralidade não são proibidas nos devaneios argumentativos de um jovem na criação de seu texto, em plena madrugada acompanhado de sua fiel caneca de chocolate. Sem medo de engordar, dos efeitos colaterais formados pelo açúcar, tomei um porre do chocolate quente. Corrompi as regras do sistema, deixando de dormir no suposto horário adequado para minha idade. Falei com Deus porque de todos, somente ele é capaz de me dar as respostas mais improváveis que as vezes eu preferia não ter entendido. Analisei o conjunto de erros que cometi no dia e disse para mim mesma que não os faria novamente. Tão tola, inocente... chorei com o som do violinista, meu peito encheu-se de gotas pingadas por um gigante sentimentalista. Me esqueci por completo da prova em que fui mal, do quarto bagunçado, do amor que ainda não vem. Lembrei de mim, e nada mais.
Acordei com uma ressaca de chocolate quente.

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